terça-feira, 7 de maio de 2013

Dnocs alerta para impacto das mudanças climáticas e intensificação das secas


Para a tomada de decisão na escolha estratégica de projetos, o planejamento regional no Brasil deverá levar em conta o agravamento das mudanças climáticas no semiárido do Nordeste.

O fenômeno vai intensificar a gravidade da seca com aumento da evapotranspiração e redução das terras aráveis, que terão consequências na insegurança alimentar.

O alerta foi feito pelo coordenador de Planejamento e Gestão Estratégica do Dnocs, José Alberto de Almeida, no seminário “Os Problemas e as Alternativas de Convivência com a Seca no Semiárido”, realizado pela Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio da Câmara dos Deputados, sexta-feira, no Dnocs. O impacto das mudanças climáticas já é um fenômeno global, pois as secas estão afetando a economia mundial dos EUA, Austrália, Portugal e Espanha, assinalou.

José Alberto de Almeida fez uma correlação entre o orçamento do Dnocs e os períodos de seca, com altas na estiagem e oscilação para baixo em anos normais de chuvas. Segundo ele, embora inevitável, a eventualidade de ciclos de periodicidade ainda não determinada e as restrições orçamentárias tornam difícil manter o foco sobre a questão.

Entre a ocorrência de uma e outra seca busca-se resolver problemas mais imediatos e urgentes. “É difícil para as pessoas imaginar e planejar secas mais severas do que a experiência em sua vida ou o registro histórico”, observou.

Hoje, as exigências são bem maiores do que nas origens do Dnocs  que estão fundadas nas palavras secas e água, avalia Alberto de Almeida. Naquela época – acrescenta - “fazer” água significou possibilitar a existência da vida e a presença da civilização no semiárido. Todavia, segundo ele, o início do século XXI coloca o Dnocs frente a um conjunto de desafios, entre os quais os da ameaça de redução dos recursos hídricos e ampliação das necessidades de produzir alimentos numa conjuntura em que a comunidade quer ser participante direta das decisões sobre o seu destino.

O coordenador de Planejamento do Dnocs defende como necessária a construção de uma política nacional de mitigação dos efeitos da seca e convivência com o semiárido. “É unânime a necessidade de avançar para ações de preparação para a gestão de riscos e não para a gestão de crise”, disse ele. Alberto de Almeida chama a atenção para que o país tenha uma definição clara de coordenação das ações relacionadas a secas, pois é um problema interinstitucional e transversal às várias políticas públicas.

O representante do Dnocs defende a implantação de sistemas de controle eficazes e de alerta precoce de seca – investimento em pesquisa, ciência e tecnologia. Neste aspecto, propõe trazer a parceria do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Para ele, a estratégia apontada requer Planejamento de longo prazo com a necessária articulação entre os entes federativos.

Ao observar em documento do Programa Água para Todos a série histórica sobre as secas no Nordeste brasileiro, Alberto de Almeida manifestou preocupação ao notar uma tendência à repetição do fenômeno em períodos mais curtos. Enquanto no século XIX ocorreram oitos secas, e dez secas no século XX, no XXI já foram registradas cinco secas no Nordeste.

Como desafios e oportunidades neste contexto, o coordenador de Planejamento do Dnocs destaca a busca por avanços na área tecnológica [reuso de água, dessalinização, sistema de alerta...] e investimento para ampliar a difusão do conhecimento sobre o semiárido. Cita ainda medidas para fortalecer os canais de comunicação com a sociedade e buscar mais parcerias para os projetos de interesse da região e da sociedade. Propõe incentivar projetos que também tenham conteúdo educativo, de valorização da região e que sejam priorizados programas considerados estruturantes para o combate à desertificação e de convivência com o semiárido.

O Dnocs trabalha para agregar 60 mil hectares de áreas novas aos perímetros irrigados, informou Alberto de Almeida. Hoje o órgão conta com patrimônio constituído por 328 barragens com capacidade de acumulação de quase 30 bilhões de m³ e 39 perímetros irrigados com infraestrutura implantada para a irrigação de mais de 100 mil hectares.

As obras de ampliação dos projetos de irrigação vão acrescentar 28.610 hectares para a produção. No Ceará, o total das áreas novas inclui as segundas etapas do Baixo Acaraú, com 4.168 hectares; Tabuleiros de Russas com 3.600 hectares; Araras Norte, com 1.618 hectares e Jaguaribe Apodi com 2.700 hectares.

No Piauí, o acréscimo em áreas novas abrange os perímetros irrigados Platôs de Guadalupe, com 10.632 hectares e o Tabuleiros Litorâneos com 5.900 hectares. O coordenador de Planejamento do Dnocs citou ainda mais de 10 projetos de irrigação com proposta de revitalização que somam 19.486 hectares e seis novos projetos que perfazem 41.898 hectares. Entre estes, cita o projeto de irrigação Santa Cruz do Apodi, no Rio Grande do Norte, com 4.014 hectares.

O conjunto de 14 estações de piscicultura tem capacidade para ampliar a produção de alevinos da média histórica de 20 milhões por ano para 80 milhões ano. Mas se forem colocadas em funcionamento as novas estações, a produção deve chegar a 100 milhões de alevinos por ano.

As principais obras do Dnocs no semiárido nordestino, a maioria delas integrantes do Programa de Aceleração do Crescimento [PAC] do governo federal, envolve projetos de irrigação, adutoras regionais e barragens, totalizando investimentos aproximados de R$ 2,9 bilhões, informa Alberto de Almeida.

Com o lançamento do Programa Mais Irrigação, novas ações foram incorporadas ao Dnocs  disse ele. Entre as obras do Departamento, destaca como concluídas as barragens Piaus [PI], Taquara [CE] e Figueiredo [CE]. Foram também concluídas as adutoras Acauã [PB] e do Oeste [PE], e parte da 1ª etapa da Adutora Pajeú [PE]. Como novas obras, o coordenador menciona as barragens Fronteiras [CE], Oiticica [RN], Ingazeira [PE] e Nova Algodões [PI].

CARTA DE FORTALEZA A apresentação de José Alberto de Almeida conclui com uma citação da Carta de Fortaleza, o documento extraído no II Seminário sobre Mudanças Climáticas: Implicações para o Nordeste, realizado em 26 de novembro de 2008:

“As mudanças do clima terão severos impactos sobre uma região que já vem sofrendo repetidos transtornos climáticos e é caracterizada pela pobreza de boa parte da população urbana e rural. As mudanças tenderão a aumentar os problemas de clima, solo e água e dificultarão a vida das pessoas, especialmente dos grupos mais vulneráveis. Se o acesso à água já era desigual, a maior escassez de água exacerbará esta desigualdade.”

“Serão exigidos de todos grandes esforços de adaptação. É primordial fortalecer a capacidade adaptativa, especialmente dos pobres, através da educação e da capacitação profissional.”

“Para enfrentar os impactos previstos, são necessárias instituições públicas eficazes, começando pela capacidade de pesquisar e planejar, continuando com a gestão dos recursos hídricos e dos outros recursos naturais, serviços de saúde eficazes, uso do solo urbano e rural, e educação inclusiva de qualidade que capacite os jovens a participar com sucesso no mercado de trabalho.”


Com informações da Divisão de Comunicação Social do Dnocs

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